O laboratório no diagnóstico das infecções respiratórias


O trato respiratório é dividido em superior e inferior. O trato respiratório superior é composto anatomicamente pelo nariz, garganta, orofaringe e nasofaringe, enquanto o trato respiratório inferior é composto pela laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e sacos alveolares.

As infecções do trato respiratório são causadas por grande variedade de agentes etiológicos, apresentando uma variação clínica moderada. Muitos fatores contribuem para essa variedade clínica e anatômica da infecção, como demográficos e epidemiológicos do paciente. O acesso a cuidados adequados de terapia antimicrobiana, ou outros, podem influenciar no desfecho dessas infecções. A grande maioria das infecções do trato respiratório são leves e autolimitadas, mas, quando agravadas, respondem por aproximadamente 3,5 milhões de mortes em todo o mundo (OMS). Podem ser de etiologia bacteriana, viral, menos comumente fúngica ou outros agentes, podem ser classificadas em superior ou inferior, e recebem o nome de acordo com a localização anatômica. As infecções do trato superior são: amigdalite, gengivite, faringite, laringite e sinusite. Pode-se, ainda, incluir as otites, em razão da sua comunicabilidade anatômica e das infecções simultâneas a outros locais das vias aéreas. As infecções do trato respiratório inferior são: traqueobronquite, bronquites e bronquiolites, pleurites e pneumonias, que também são classificadas em pneumonias adquiridas da comunidade (PAC), hospitalar (PAH) ou associada à ventilação mecânica (PAV), entre outras.

A maioria das faringites é viral e não precisa ser tratada, mas de 10 a 15% das faringites em adultos e de 15 a 30% em crianças são causadas por estreptococos do grupo A. As diferenças entre a epidemiologia de vários agentes infecciosos relacionadas à idade do paciente, estação do ano, sinais e sintomas apresentados, bem como a presença ou ausência de doença sistêmica, são insuficientes para estabelecer um diagnóstico etiológico definitivo.

As pneumonias adquiridas no hospital e associadas à ventilação mecânica são frequentemente causadas por bactérias Gram negativas multirresistentes ou outros patógenos bacterianos. Além dos vírus respiratórios que podem ser transmitidos nosocomialmente, vírus e fungos são causas raras de PAH e PAV nos pacientes imunocompetentes, mas comuns nos imunocomprometidos.

Os sintomas mais comuns na infecção respiratória superior são: cefaleia, odinofagia, coriza, congestão nasal e aumento e hiperemia da amígdala, podendo tornar-se purulenta para alguns agentes, como os bacterianos e o vírus Epstein-Barr. Para as infecções respiratórias inferiores, pode-se somar aos sintomas acima a tosse, dor no peito e dispneia. Os agentes bacterianos que mais causam a infecção respiratória são: Streptococcus beta-hemolítico do grupo A; Staphylococcus  aureus; Streptococcus pneumoniae, que é um importante agente com maior morbimortalidade; Haemophilus influenzae, sendo impactante clinicamente, aumentando a morbimortalidade em idosos e crianças de até 5 anos; e Klebsiella spp., sendo sua incidência importante nas pneumonias hospitalares e por ventilação mecânica. Outras menos comuns, mas tão importantes quanto as já citadas, são: Moraxella catarrhalis; Legionella spp.; Bordetella pertussis, que é o agente da coqueluche; e o complexo Mycobacterium tuberculosis, o agente etiológico da tuberculose. Entre os agentes virais, os mais comuns são o vírus influenza, vírus sincicial respiratório (VSR), coronavírus, adenovírus e rinovírus, sendo que os dois últimos causam menor morbimortalidade; entretanto, seus sintomas afastam as pessoas do trabalho, causando um impacto econômico importante. Há outros vírus como o metapneumovírus e o parainfluenza que também causam seus impactos nos cidadãos. Entre os agentes fúngicos, destacam-se o Aspergilus spp. e o Fusarium spp., que causam maior impacto em pessoas imunocomprometidas. O diagnóstico é compreendido em clínico e laboratorial para a identificação do agente etiológico. O diagnóstico laboratorial é realizado pela identificação do agente por processos microbiológicos ou moleculares.

DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO

O diagnóstico laboratorial microbiológico é a realização das culturas aeróbias, cultura para microbactérias e fungos nos materiais de origem respiratória. As amostras biológicas nas quais pode-se realizar a cultura são:

  • secreção de orofaringe: a coleta pode ser realizada com a inserção de um swab, pressionando e rolando sobre as tonsilas e a faringe posterior. O swab deve ser transportado em meio de Amies ou Stuart;
  • amostra nasofaríngea: a coleta pode ser realizada com a inserção de um swab dentro das narinas até a nasofaringe, fazendo movimentos rotatórios. O swab deve ser transportado em meio de Amies ou Stuart;
  • punção de seio maxilar ou aspirado sinusal: procedimento médico. O material coletado é enviado em uma seringa sem agulha, fechada ou tubo estéril;
  • escarro: colher a primeira amostra da manhã. O paciente deverá enxaguar a boca previamente, apenas com água, várias vezes, antes de realizar a coleta do escarro. Essa coleta deve ser feita por meio de expectoração logo em seguida, a fim de diminuir o envio de bactérias da flora normal bucal para a cultura. Coletar em um frasco estéril de boca larga;
  • aspirado traqueal: a amostra deve ser adquirida de pacientes intubados, com a aspiração por meio de sonda. Esse procedimento costuma ser realizado pelos fisioterapeutas. Usar o frasco estéril;
  • lavado brônquico: procedimento médico, obtendo o lavado do brônquio principal e dos brônquios direito e esquerdo durante a broncoscopia. A coleta deve ser realizada em um frasco estéril;
  • lavado broncoalveolar: material dos bronquíolos e alvéolos. Também realizado pela broncoscopia e, preferencialmente, deve se descartar a primeira lavagem e enviar as outras em frasco estéril. Separar as amostras de sítios diferentes;
  • escovado brônquico protegido: enviar a escova para o laboratório realizar a cultura, sendo uma das melhores amostras para culturas anaeróbias para o sistema respiratório. Colocar a escova em um frasco estéril com soro fisiológico estéril. Sua indicação também é para citológico e pesquisa de vírus;
  • biópsia transbrônquica: amostra obtida na broncoscopia. Enviar em um frasco estéril com soro fisiológico também estéril;
  • biópsia pulmonar: amostra obtida por meio de procedimento médico guiado por tomografia computadorizada. Enviar o material em um frasco com soro fisiológico, ambos estéreis;
  • líquido pleural: material obtido por punção pleural, procedimento realizado pelo médico. Enviar o material em um frasco estéril.

Os exames coletados com swab, aspirados e escarro serão analisados microscopicamente para avaliação da quantidade de células escamosas, presença de leucócitos e predomínio de algum microrganismo. Pode-se, também, realizar a pesquisa de fungos e de bactérias ácido-álcool resistentes (BAAR), quando suspeita. Nos outros líquidos e nas biópsias, deve ser realizado um bacterioscópico direto e a pesquisa de fungos e de BAAR, quando indicado.

DIAGNÓSTICO MOLECULAR

O diagnóstico por biologia molecular pode ser utilizado para todos os agentes etiológicos, com maior impacto e utilidade atual para os vírus respiratórios.

A síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2) nos mostrou como os vírus respiratórios afetam os indivíduos, embora as infecções virais respiratórias inferiores (VRVIs) sejam uma causa significativa de morbidade e mortalidade. A pandemia também destacou os avanços alcançados nas técnicas de diagnóstico molecular que facilitou a identificação precoce na infecção por SARS-CoV-2.

A identificação dos vírus respiratórios causadores da infecção pulmonar grave é importante para o manejo e prevenção da transmissão hospitalar. Existem diferentes abordagens diagnósticas em casos de doença pulmonar grave infecção viral. Nos últimos anos, o uso de técnicas moleculares tem contribuído para o aumento da taxa relatada de vírus respiratórios causando infecções pulmonares graves. Devido à sua alta sensibilidade e especificidade, o teste de amplificação de ácidos nucleicos é o método de escolha para o diagnóstico microbiológico de contágio do vírus. Em qualquer caso, devido ao risco de coinfecção ou superinfecção, é necessário usar técnicas de PCR multiplex. O melhor método para definir a etiologia microbiana da pneumonia adquirida na comunidade (PAC) grave ainda não foi definido. Os patógenos que causam PAC variam entre os estudos e incluem vírus e bactérias, mas infecções mistas (vírus e bactérias) também são possíveis. As bactérias mais frequentemente isoladas são S.  pneumoniae.

Dentre as recomendações para melhorar os resultados em pacientes com pneumonia grave adquirida na comunidade, destaca se sobre os exames laboratoriais que as plataformas de PCR molecular apresentam uma sensibilidade muito boa, sendo sugerido para a avaliação de pneumonia grave adquirida na comunidade ou imunocomprometidos. O rápido desempenho destas plataformas PCR poderia encurtar o período de tempo desde a visita à emergência ao departamento para administração do tratamento antibiótico inicial adequado.

Há disponível no mercado painéis respiratórios com a detecção de mais de 20 tipos de vírus, assim como um painel misto comercial que identifica os vírus e as bactérias mais prevalentes nas infecções respiratórias, totalizando 10 agentes que podem ser detectados na mesma amostra. Há também testes rápidos de duração de 1 a 1h30 de análise, que podem detectar até 4 vírus na mesma amostra e no mesmo cartucho de análise. Há o teste rápido para a detecção do complexo Mycobacterium tuberculosis  com ou sem a resistência à rifampicina. Como descrito, atualmente, há uma variedade de exames e testes rápidos para a detecção dos agentes mais comuns causadores de infecções respiratórias. O que impactará nas escolhas será o perfil do atendimento da unidade de saúde, a epidemiologia da região e a capacidade financeira dessa unidade em adquirir os testes.

Edição 07. Julho/2024.

Assessoria Médica – Lab Rede

Referências

  1. Maluf NZ. Diagnóstico laboratorial das infecções respiratórias. In Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): exames laboratoriais na medicina de emergência / organização Leonardo de Souza Vasconcellos [et al.]. 1. ed. Santana de Parnaíba [SP]: Manole, 2023.
  1. Cilloniz C, Luna CM, Hurtado JC, et al. Respiratory viruses: their importance and lessons learned from COVID-19. Eur Respir Rev 2022; 31: 220051 [DOI: 10.1183/16000617.0051-2022].
  1. Niederman MS, Torres A. Severe community-acquired pneumonia. Eur Respir Rev 2022; 31: 220123 [DOI: 10.1183/16000617.0123-2022].
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