Os laboratórios estão atualmente incorporando em suas rotinas o teste sorológico de Detecção de Anticorpos Neutralizantes produzidos contra o SARS-CoV-2. Neste informativo vamos esclarecer dúvidas frequentes e complementar nossa última edição sobre o tema.
O que é o teste de anticorpos neutralizantes?
O Teste de neutralização SARS-COV2/COVID19 é um exame de sorologia para detectar anticorpos específicos, que impedem a ligação do vírus ao receptor da célula. Estes anticorpos são direcionados contra a proteína “spike” (S), que faz a ligação com receptor, e bloqueiam a entrada do vírus na célula e sua multiplicação, por isso são chamados neutralizantes.
Qual a diferença em relação aos testes sorológicos de IgG e IgM que já estão na rotina?
O teste de anticorpo neutralizante é um teste funcional, que testa a capacidade do anticorpo presente na amostra em bloquear (neutralizar) a ligação do vírus (spike) com o receptor celular (ACE2), simulada pelo teste. Os demais testes sorológicos para SARS-CoV-2 identificam a presença de anticorpos, mas não são capazes de avaliar a sua função de neutralização.
Quando ocorre a produção dos anticorpos neutralizantes?
Estes anticorpos são produzidos após a infecção natural ou após vacinação, representando a resposta imunológica do indivíduo. Desta forma, espera-se que 14 dias após sintomas ou vacinação, possam ser detectados por teste específico. Porém esta resposta é variável e pode ocorrer de modo mais tardio.
Eventualmente, alguns indivíduos não apresentam esta categoria de anticorpos. Além disso, a presença de anticorpos neutralizantes não contrapõe a necessidade de manter as medidas de segurança como o uso de máscaras, higiene constante e distanciamento social.
Qual o método de determinação destes anticorpos?
Atualmente existem ensaios imunoenzimáticos (ELISA) práticos, confiáveis e automatizados que viabilizaram a determinação na rotina, substituindo os ensaios VNT (neutralização do vírus em placa), considerados padrão ouro, porém demorados e complexos.
Como são expressos os resultados?
O ensaio é qualitativo, do tipo reagente ou não reagente. Porém está vinculado a um índice ou percentual que traduz a presença de anticorpos neutralizantes na amostra. É importante ressaltar que não se pode inferir destes resultados um valor quantitativo que seja correlato de proteção.
O surgimento de variantes pode afetar os ensaios?
Considerando o fundamento teórico dos ensaios que simulam a ligação entre o receptor celular ACE2 e proteína viral spike, alvo de mutações, são necessários testes com as variantes e o conhecimento sobre este tema está em constante evolução. Segundo a OMS, estão sendo realizadas investigações epidemiológicas e virológicas para avaliar transmissibilidade, gravidade, risco de reinfecção e a resposta de anticorpos a novas variantes, bem como seu potencial impacto nas medidas de saúde pública, incluindo diagnóstico, tratamento e vacinas.
Quais seriam as indicações de se realizar a pesquisa dos anticorpos neutralizantes?
Otestenãodeveserutilizadoparaodiagnosticodafaseaguda.Serealizadoapósinfecçãonaturalpodeevidenciara resposta imune ao SARS-CoV-2, demonstrando a presença dos anticorpos neutralizantes. Outra opção, seria após imunização com determinados tipos de vacinas que utilizam a proteina S como componente antigênico, embora no momento não exista recomendação para a mensuração de anticorpos após vacinação.
Quais seriam as limitações na aplicação e no ensaio dos anticorpos neutralizantes?
Indivíduos que já tiveram a infecção por outro coronavírus podem resultar em falso positivo. São consideradas limitações importantes:
1- Resultado reagente não tem correlato com proteção, ou seja, não podemos afirmar sobre a presença do anticorpo e imunidade. Também não podemos falar sobre duração de imunidade ou proteção contra a disseminação.
2- Resultado não reagente não traduz ausência de imunidade, pois a resposta imune adaptativa não é apenas devido a anticorpos.
Referência:
1. Jiang, Shibo & Hillyer, Christopher & Du, Lanying. (2020). Neutralizing Antibodies against SARS-CoV-2 and Other Human Coronaviruses. Trends in Immunology. 41. 10.1016/j.it.2020.03.00
2. Marot, S., Malet, I., Leducq, V.et al.Rapid decline of neutralizing antibodies against SARS-CoV-2 among infected healthcare workers.Nat Commun12,844 (2021). https://doi.org/10.1038/s41467-021-21111-9
3. Atualização epidemiológica: Variantes de SARS-CoV-2 nas Américas (26 de janeiro de 2021). Disponível em https://iris.paho.org/handle/10665.2/53234 Última consulta em 25/02/2021